sexta-feira, 5 de junho de 2009

Senso simbólico


Senso simbólico” – mas poderíamos denominá-lo senso poético, senso sacramental, senso místico, metafórico, subjetivo, contemplativo, perscrutador do mistério e intérprete e gerador dos sentidos e da polissemia das coisas e dos objetos. A linguagem poética permite ultrapassar os limites da racionalidade puramente descritiva e analítica, para a qual toda uma dimensão da realidade – talvez a humanamente mais importante – lhe é inacessível. No nosso mundo tecnificado, os objetos – em sua finalidade produtiva e utilitária, em sua artificialidade descartável – tomam o lugar das coisas. Estas, porque “saídas das mãos de Deus” , nos revelam, por meio da observação e da contemplação, a sabedoria profunda escondida nelas, tornando-se “caminho... sacramento e porta para o encontro com Ele”. Enquanto os objetos nos prendem aos seus aspectos funcionais, produtivos e tecnológicos – tornando-se assim para nós signos unissignificativos – as coisas, se contempladas em sua riqueza simbólica, na inesgotável polissemia de suas relações conosco, abrem-nos, pela contemplação, as portas de nossa intuição criadora. Este belo texto de E. Morin referenda o apelo à necessidade de se apreender o s
entido simbólico maior das coisas através da construção de uma linguagem poética:
O ser humano produz duas linguagens a partir de sua língua: uma, racional, empírica, prática, técnica; outra, simbólica, mítica, mágica. A primeira tende a precisar, denotar, definir, apóia-se sobre a lógica e ensaia objetivar o que ela mesma expressa. A segunda utiliza mais a conotação, a analogia, a metáfora, esse halo de significações que circunda cada palavra, cada enunciado e que ensaia traduzir a verdade da subjetividade... A cada uma delas correspondem dois estados. O primeiro, também chamado de prosaico, no qual nos esforçamos por percebe, raciocinar, e que é o estado que cobre uma grande parte de nossa vida cotidiana. O segundo estado, que se pode justamente chamar de “estado segundo”, é o estado poético. *
Modificar nossa atitude diante das coisas, apreendendo a contemplá-las em sua riqueza simbólica, nos educa a “não considerar unicamente o mundo das idéias como valor, nobre e digno, de nossa mente humana” . Saber estar à espera de captar o mistério das coisas nos possibilita o acesso ao saber místico, o qual exige que sejamos tocados em primeiro lugar pelos sentidos, dando-nos verdadeiramente conta do que vemos, tocamos e ouvimos.
A Terra é o único caminho que nos pode conduzir ao céu. Não há outro. E a Terra não é uma idéia, um raciocínio, uma abstração ou um conceito. Não é sequer uma lei. É uma coisa [...]. **

* E. Morin, Amor, poesia, sabedoria, Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 1998, pp.35s
** P. Charles, A oração de todas as coisas, São Paulo, Flamboyant, 1962, p.11

Um comentário:

  1. O que são os símbolos? Talvez realidades subsistentes, talvez sinais que remetem ao superurânio..

    Aluno: Maria da Silva

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