sexta-feira, 5 de junho de 2009

Postura dialética diante da tradição


Devemos ter uma postura dialética diante da tradição – posição de síntese entre a tradição e a novidade da experiência, capaz de fazer-nos chegar a novas formas de verdade. Há uma positividade – a ser conservada – e uma negatividade – a ser superada – em toda tradição. A concepção dialética da verdade foge dos pólos da ortodoxia intransigente – que desqualifica o novo apegando-se ao passado, normativo e sacralizado – e do relativismo, em que a tradição é negada, só reconhecendo ao presente o valor de verdade. O cansaço e a irritação diante das novidades são sinais a um tempo de ortodoxia e de atrofiamento e esclerose intelectual. Para a ortodoxia, o novo é estranho, falso, errado. A crítica ao corpo doutrinal recebido do passado é, por definição, herética e motivadora de exclusão. O paradoxo é que a riqueza do passado, posta em camisa-de-força, incapaz de abertura aos sinais do presente, enrijece e tende a definhar. Já, o paradoxo do relativismo é fazer da negação intransigente de qualquer norma, valor ou verdade do passado sua própria ortodoxia, não raro defendida com ferocidade. Assim, tradição e relativismo se irmanam no erro de uma mesma lógica excludente – sim e não, ou tradição transmitida ou experiência presente. Já, contrariamente, numa atitude susceptível de ser também definida como quântica, tradição e novidade podem, conjurando todo exclusivismo, ser pensados ao mesmo tempo, assumindo simultaneamente suas respectivas positividades numa síntese superadora.

Um comentário:

  1. Ainda é bastante difundida nas instituições de ensino médio do nosso país a ideia de que a Idade Média representou um período de obscurantismo, de que os conhecimentos construídos naquele período, na sua maioria de cunho teológico, não têm mais nada a contribuir para os tempos atuais no dinamismo que vive a sociedade. Constrói-se, assim, uma consciência excludente do valor do conhecimento teológico. Neste mesmo sentido é que o conhecimento metafísico, filosófico e ético parecem hoje saberes de quinta categoria em comparação ao conhecimento científico. É um abuso este tipo de postura, assim, como foi no passado a resistência de tantos às novidades trazidas pela ciência. As formas de conhecimento: senso comum, mítico, religioso, metafísico, filosófico e científico são expressões do esforço humano na busca do conhecimento verdadeiro. A autonomia de cada um deve ser respeitada e a suas especialidades estimadas igualmente. É na dialética desses conhecimentos que somos sempre impulsionados a aumentarmos o um tesouro de saber. (Djalma da Silva Moura)

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