sexta-feira, 5 de junho de 2009

Superar a postura dualista


O pensamento complexo, o saber relacionar, nos leva a superar a postura dualista, que faz escolha exclusiva por um dos pólos da realidade, desprezando ou negando o outro. A postura dualista vê o mundo dividido entre sujeito e objeto, matéria e espírito,
natureza e cultura, razão e emoção, mente e corpo, masculino e feminino, imanência e transcendência, ação e contemplação, etc. Impõe-se, no entanto, relacionar esses pólos, encontrar as articulações, integrá-los, religá-los numa visão ecológica da realidade, em que tudo guarda relação com tudo o que existe – “tudo o que existe, coexiste”*. Trata-se de um paradigma dialogal. Aplicado, por exemplo, à tensão entre sujeito e objeto, passa-se a admitir que o sujeito é marcado, objetivado, pelo objeto. E este, ao ser captado pelo sujeito, é sempre subjetivado, interpretado. Sujeito e objeto não são pólos irremediavelmente separados, como na visão cartesiana, mas estreitamente imbricados na constituição do outro – incompreensíveis, pois, fora dessa relação. Em geral, vencemos a atitude dualista enfrentando o que nos questiona e contradiz. Superamos o enfoque disjuntivo – “ou isto ou aquilo; ou sim ou não – adestrando o pensamento no “jogo dos contrários”. É o método de Abelardo: sic et non – sim e não – que apura as teses a favor e em contra de qualquer afirmação que se quer investigar.


* L. Boff, Ecologia, Mundialização, p. 19


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