Responsabilidade diante da fé. No horizonte mais amplo da nossa consciência se insere a presença do transcendente, informando um caráter próprio e um sentido maior a todas as outras relações, intrapessoais, interpessoais e cósmicas. Na medida em que reconhecemos que os dons de nosso intelecto têm origem em Deus, seu exercício assume a condição de missão. Na medida em que discernimos a natureza teândrica do nosso agir, onde o divino e o humano co-atuam, percebemo-nos partícipes de um projeto salvífico. Desde essa perspectiva de fé, o uso para o bem de nossos talentos – não os enterrando (cf. Mt 25,14,30) ou os desvirtuando – exprime o último e definitivo nível de responsabilidade:
Se todas as instâncias humanas caducarem ou falharem na sua cobrança e exigência de responsabilidade, permanece sempre Deus como pedra inabalável, rochedo firme.
A presença atuante de Deus em nosso agir não diminui a responsabilidade do ser humano, pois esta não destrói nossa liberdade. Devemos fugir de dois extremos: nem podemos nos abandonar à Graça, nem devemos ter uma concepção prometéica do homem, atribuindo somente à qualidade da ação humana a sua eficácia. Deve, antes, ser o nosso agir um empenho confiado, que mobilize todos os meios humanos à par que mantém a confiança na Providência de Deus. Eis como Santo Inácio de Loyola o formula:
Eis a primeira regra para agir: deposita tua confiança em Deus, como se todo o êxito do trabalho não dependesse de ti, mas apenas de Deus; aplica-te todo inteiro à tua obra, como se Deus não devesse fazer coisa alguma, mas tu devesses tudo fazer sozinho.*
* Segui a fórmula corrigida, por J. de Lapparent, da regra inaciana, conforme adaptação citada e comentada por Libânio.