sexta-feira, 5 de junho de 2009

Fugir do extremo da univocidade: unir a compreensão técnica à teológica


Para o cristão, a questão da univocidade é particularmente complexa. De um lado, defronta-se com a Palavra de Deus revelada como via que deve professar verdadeira de acesso ao real. Por outro lado, a razão analítica, produto de sua inteligência criativa, lhe provê de instrumentais técnicos que lhe iluminam a compreensão das realidades sociais e naturais. A tentação da univocidade simplificadora é a da eliminação de um desses dois pólos, silenciando-o, negando-lhe originalidade e/ou legitimidade, e absolutizando a leitura proporcionada pela outra mediação. Se a Revelação é infalível, as mediações sócio-analíticas podem ser vistas como orgulhoso produto da inteligência atéia. E ao contrário, na medida em que a razão técnica mostra seu poder, a Palavra de Deus pode ser, em sua aplicação ao mundo, vista como alienada e alienante. A univocidade de qualquer uma destas posições é produto da confusão de níveis. Pertence ao instrumental analítico descobrir e explicar os mecanismos em funcionamento. Pertence à Revelação a dimensão de sentido nos dados do real. Sem a compreensão técnica, falhamos na manipulação das coisas e objetos da realidade. Sem a compreensão teológica, que é capaz de reler, sob nova luz, os resultados da razão técnica e inseri-los em horizonte mais amplo – indedutível pela razão porque é fruto do amor de Deus –, ficamos aquém de nossas necessidades e expectativas mais profundas. Nossa atitude, em conseqüência, deve ser a de pensar desde o pressuposto da unidade entre essas duas compreensões, pois se ambas – natureza e Revelação – são palavras de Deus, assumir sua unidualidade será condição e fonte da verdadeira lucidez.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Insira aqui seu comentário.